Freud e o inconsciente

 

    Sigmund Freud nasceu em Freiberg na Morávia. Formou-se na universidade de Medicina de Viena.

 

O inconsciente

    Para se compreender o ser humano, tem de se admitir a existência do inconsciente, que define como uma zona do psiquismo constituída por desejos, pulsões, tendências e recordações recalcadas, fundamentalmente de carácter sexual.

    Freud apresenta em dois momentos duas interpretações do psiquismo humano: a 1º e a 2º tópica. Freud distingue no nosso psiquismo instâncias, isto é, estruturas organizadas que incluem sistemas.

    Na 1º tópica recorre À imagem do icebergue: o consciente corresponde à parte visível, enquanto o inconsciente corresponde à parte invisível, submersa, do icebergue. O inconsciente é uma zona do psiquismo muito maior por comparação com o consciente e exerce uma forte influência no comportamento.     Ao consciente, constituído por imagens, ideias, recordações, pensamentos, é possível aceder através da introspecção. Os materiais inconscientes, que não são acessíveis através da auto-análise, tendem a tornar-se conscientes. Contudo, há uma censura que impede este acesso às pulsões e desejos inconscientes, recalcando-os. O recalcamento é um mecanismo de defesa que devolve ao inconsciente os materiais que procuram tornar-se conscientes.

    A partir de 1920 apresenta a 2º teoria sobre a estruturação do psiquismo, que é constituído por três instâncias: id, ego e superego.

    O id é a zona do inconsciente, primitiva, instintiva, a partir da qual se formam o ego e o superego. Existe desde o nascimento e é constituído por pulsões, instintos e desejos completamente desconnecidos. Está desligado do real, não se orientando, portanto, por normas ou princípios morais, sociais ou lógicos.

    Rege-se pelo princípio do prazer, que tem como objectivo a realização, a satisfação imediata dos desejos e pulsões. Grande parte destes desejos é de natureza sexual. O id é o reservatório da libido, energia das pulsões sexuais.

    O ego é a zona fundamentalmente consciente, que se forma a partir do id. Rege-se pelo princípio da realidade, orientando-se por princípios lógicos e decidindo quais os desejos e impulsos do id que podem ser realizados. É o medidor entre as pulsões inconscientes e as exigências do meio, do mundo real. Tem de gerir as pressões que recebe do id e as que recebe do superego. Forma-se durante o primeiro ano de vida.

    O superego é a zona do psiquismo que corresponde à interiorização das normas, dos valores reais e morais. Resulta do processo de socialização, da interiorização de modelos como os pais, professores e outros adultos. É a componente ética e moral do psiquismo. Pressiona o ego para controlar o id. Forma-se entre os 3 e os 5 anos.

 

Sexualidade

    O reconhecimento da importância da sexualidade na vida psíquica humana e a afirmação da existência de uma sexualidade infantil vão provocar um enorme escândalo.

    Freud esclarece que a sexualidade não pode ser associada à genitalidade, antes corresponde ao prazer que tem origem no corpo e que suprime a tensão (libido).

    Para o fundador da psicanálise, o desenvolvimento da personalidade processa-se numa sequência de estádios psicossexuais que decorrem desde o nascimento até a adolescência.

    A cada estádio psicossexual corresponde uma determinada zona erógena. Aos diferentes estádios de desenvolvimento correspondem conflitos psicossexuais específicos.

Estádio oral

    Este estádio decorre desde o nascimento até cerca dos 12/18 meses. A zona erógena é a boca, ou seja, o bebé obtém prazer ao mamar, a levar objectos à boca, bem como através de estimulações corporais. A sexualidade é auto-erótica. O desmame corresponde a um dos primeiros conflitos vividos.

Estádio anal

    Este estádio decorre desde os 12/18 meses até aos 2/3 anos de idade e a zona erógena é a região anal. A criança obtêm prazer pela estimulação de ânus ao reter e expulsar as fezes. O controlo da defecação gera, simultaneamente, sentimentos de prazer e de dor. É nesta fase que se faz a educação para a higiene, relativamente à qual a criança ou sede ou se opõe ao cumprimento das regras. A ambivalência esta, assim, presente nas interacções que estabelece com a mãe ou outros cuidadores.

Estádio fálico

    Este estádio decorre dos 3 aos 5/6 anos de idade. A zona erógena é a região genital: os órgãos sexuais são estimulados pela criança, que assim obtêm prazer. A curiosidade sobre as diferenças sexuais é grande.

    É neste estádio que surge o complexo de Édipo, que consiste na atracção da criança pelo progenitor do sexo oposto e agressividade para com o progenitor do mesmo sexo. É com este, que surge como modelo, que ela se vai identificar.

    A identificação leva a criança a adoptar os seus comportamentos, valores e atitudes. É a sua interiorização que conduz à formação do superego. É através do processo de identificação que se supera o Complexo de Édipo.

Estádio de latência

    Este estádio decorre dos 5/6 anos até à puberdade. Este período é caracterizado por uma aparente atenuação sa actividade sexual. Seria neste estádio que ocorreria a amnésia infantil: a criança reprime no inconsciente as experiências que a perturbam no estádio fálico. A criança investe a sua energia nas actividades escolares, ganhando especial importância nas relações que estabelece entre os colegas e professores.

Estádio genital

    A partir da puberdade a zona erógena é a região genital. É o último estádio de desenvolvimento da personalidade, em que há uma activação da sexualidade que esteve latente no período anterior.

    Apesar dos investimentos afectivos se desenrolarem fora da família, há uma reactivação do Complexo de Édipo. O processo de autonomia relativamente aos pais passa por os encarar de forma mais realista (luto das imagens idealizadas dos pais que caracterizam os estádios anteriores). O prazer sexual envolve todo o corpo, integrando todas as zonas erógenas.

 

Metodologia de investigação

    Aplica o método clínico adaptando um conjunto de técnicas que permitiram trazer ao consciente as causas não conhecidas, inconscientes, dos problemas e conflitos dos pacientes. O psicanalista, na sua prática terapêutica, recorre a alguns procedimentos ou técnicas próprias: associações livres, interpretação dos sonhos, análise do processo de transferência e análise dos actos falhados.

    Associações livres: o psicanalista pede ao analisado que diga tudo o que sente e pensa, sem qualquer omissão, mesmo que lhe pareça sem importância, desagradável, absurdo.

    É no decorrer deste procedimento que se manifestam resistências, desejos, recordações e recalcamentos inconscientes que o analista procurará identificar e interpretar.

    Interpretação dos sonhos: o psicanalista pede ao analisado que lhe relate os sonhos. Segundo Freud, o sonho seria a realização simbólica (disfarçada) de desejos recalcados. Freud distingue o conteúdo manifesto do sonho (o que é lembrado, o que é consciente) e o conteúdo latente (os desejos, medos, recalcamentos que estão subjacentes). Cabe ao analista dar-lhe um sentido, interpretando os sonhos narrados.

    Análise da transferência: no psicanalista analisa e interpreta os dados do processo de transferência.

    A transferência é um processo em que o analisado transfere para o psicanalista os sentimentos de amor/ódio vividos na infância, sobretudo relativamente aos pais.

    Análise dos actos falhados: o psicanalista procura interpretar os esquecimentos, lapsos e erros de linguagem, leitura ou audição do analisado.

    Segundo Freud, estes erros involuntários, manifestariam desejos recalcados no inconsciente e que irromperiam na viva quotidiana.